segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Avatares no Ensino Fundamental


Considerando a geração atual precisamos sempre adaptar atividades que envolvam as TICs -Tecnologias da Informação e Comunicação, assim como as TDs- (Tecnologias Digitais) em sala de aula presencial. Penso que, se o nativo/residente digital traz uma bagagem de informação o professor não deve desperdiçar as possibilidades de aprendizagem. É incumbência do educador redimensionar uma proposta pedagógica que, motive o aprendiz ajudando-o a desenvolver as suas potencialidades e estilos próprios de aprender. Dentre as possibilidades e processos estratégicos para a aprendizagem, reflito a dimensão dos estilos de aprendizagem que os discentes incorporam e vivenciam no espaço virtual. 
Nas turmas as quais desenvolvi aulas-atividade há quase 2 anos, na Prefeitura do Recife-PE, percebi toda uma dimensão de estilos de aprendizagem no virtual e presencial que instigou o processo de ensino e aprendizagem e, portanto, necessitou de diversas observações e análises estratégicas que suscitaram em intervenções pedagógicas no processo de aprendizagem individual e coletiva do aluno. 
Pois, pensar uma sala de aula homogênea em plena era digital onde a relação de transposição de redes em meios a tantos softwares e aplicativos, é reafirmar uma impotência cognitiva e relutante da classe profissional de docentes, quanto a aplicabilidade das estratégias didáticas que devem ser contempladas em suas diversidades, sem esgotar a relação síncrona e assíncrona entre o professor e o aluno numa dimensão que os contextos sejam contemplados.  
Nessa dimensão, pensando a teoria e prática, realizei com 4 turmas durante o anos letivo/2015 alguns trabalhos, entre eles: os que refletiam a cultura, o conhecimento, a busca profissional, a vivência diária escolar e a dimensão social, os contextos das relações familiares em conjunto com a abordagem reflexiva sobre questões étnico-raciais, consubstanciadas pela lei 10.639/03, transcrita no currículo escolar como ferramenta pedagógica a contribuir para o ensino politizado à medida que, o entendemos como artefato das questões de poder e identidade. 
Nesse processo de ensino e aprendizagem foi possível, entre as análises, perceber o quanto modifica a forma como os alunos são identificados e como se veem na dimensão escolar, e como eles gostariam de serem vistos no meio social. 
O resultado do projeto didático vivenciado confirmou o problema inicial de que: os alunos do Ensino Fundamental do 4º, 5º anos e de correção de fluxos, residentes digitais, tem reconhecimento igualmente nivelado, quanto às questões étnico-raciais, no processo de autorreconhecimento sócio-interacionista  na modalidade de ensino presencial assim como, transpõe a confirmação na rede social "Facebook". 
Assim como, confirmaram as questões das análises realizadas, entre elas: 
1. Os alunos do ensino fundamental do 4º, 5º anos e de Correção de Fluxo, residentes digitais, não possuem autorreconhecimento ético-racial em sala de aula presencial? 
2. Como acontece o processo de autorreconhecimento ético-racial na rede social "Facebook"?  
3. Como os alunos identificam-se ético-racialmente em sala de aula?
4.  Existe aceitação igualmente nivelado, quanto às questões  ético-raciais em sala de aula e na rede social  "Facebook"?
Quanto às características físicas relatadas em entrevistas e textos dissertativos pelos 66 alunos analisados no presencial e  identidades virtuais analisadas, através dos perfis e inferências de diversas postagens entre grupos dos níveis de ensino analisados, foi possível confirmar os  seguintes dados:
Na sala de aula presencial, 46  alunos negros, afirmaram que gostariam de ter olhos azuis ou verdes, cor da pele clara, branca ou parda. As informações foram transcritas no desenvolvimento dos textos e nas apresentações de grupos como: “sou moreno clarinho ou morena clarinha". Quando não, tinha no discurso: "meu pai é preto, mas minha mãe é branca e, eu puxei a ela." "Eu nasci mais branquinho, mas com o sol da praia do Pina eu fui escurecendo e, agora, eu sou moreno puxando mais pra cor do meu pai que, é moreno escuro". Nesse processo de autorreconhecimento sócio-interacionista foram declarantes, apenas, 2 dos alunos como: "Sou negro/negra, professora. Melhor dizendo, minha família toda é negra". Portanto, dos 66 analisados foram os únicos alunos que apresentaram autoconhecimento ético-racial em sala de aula e na rede social "Facebook".
Na rede social "Facebook", dos 66 alunos avaliados, 64 apresentam perfis e diálogos completamente diferentes da realidade ético-racial, confirmando o que transmitiram nas apresentações dos grupos em salas de aula e nos textos desenvolvidos nas atividades solicitadas.
Em hipótese alguma os demais alunos identificaram-se, mesmo afrodescendentes, como negros. A terminologia "Negra/ Negro" era modificada verbalmente e descritivamente nas produções textuais e nas interações no "Facebook" como: “sou moreno claro ou mais ou menos escuro, sou morena clara ou mais ou menos escura”. Contudo, o não autorreconhecimento em sala de aula foi bem maior. Pela analise realizada nas coletas de perfis de redes, dos 66 alunos, 20 tinham dificuldades de acesso na rede, pois, dependiam de lan house. Logo, as discussões eram trazidas para sala de aula, objetivando que a interação fosse realizada.
Dos 66 alunos analisados foi possível constatar que: no presencial 46 se autoafirmaram "brancos" ou "moreno clarinho ou morena clarinha".  No “Facebook”, 20 deles autoafirmaram reconhecimento ético-racial. Embora desses 20 alunos avaliados, 15 demonstraram e reafirmaram preferir ser vistos diferentes em suas características da realidade ético-racial, não aceitando a condição de autorreconhecimento raciais naturalmente declarados: "não aceito ser negro". Os 5 restantes afirmaram reconhecimento. Dos 5 alunos, 3 afirmaram: "sou negro (a), mas prefiro não falar da cor da minha pele, porque é muito diferente da turma, professora". E, apenas, 2 declararam ser negro/negra , inclusive, relacionando ao meio social a qual pertencia.
As análises foram realizadas a partir dos trabalhos produzidos pelas turmas nas aulas-atividades, desenvolvidas durante o ano letivo/2015. 
A proposta foi desenvolver textos descritivos a partir da criação de uma obra de arte, com o software Mywebface, em que os alunos teriam que realizar a criação de um avatar que representasse as características físicas do (a) aluno (a).
A representação deveria ser a identidade dos mesmos, na vida presencial e virtual.  Nesse sentido, a construção deveria transpor a rede social "Facebook" para análise.
O tema da aula vivenciada como prática de ensino foi: COMO ME VEJO?  Assim sendo, os alunos desenvolveram textos descritivos de como se viam.
Em seguida foi solicitada uma identidade presencial e outra virtual.
Para fechamento das análises foram desenvolvidas atividades em forma de desenho nas produções de textos em sala de aula, assim como, desenvolvemos algumas técnicas de pintura com lápis de cor, giz de cera e tinta guache. Assim, foram possíveis as possibilidades da identificação ético-racial a qual propus.  
Para o virtual a produção artística individual foi desenvolvida, através do Software Mywebface que solicitava diversas inferências do (a) aluno (a). 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Reportagem: " As dores e delícias do Ensino Superior".

Entre os meses setembro/outubro-2015 fui convidada para uma entrevista pela repórter Marília Alves Banholzer do NE10. O tema polêmico foi um Especial sobre Educação Superior. Houve alguns destaques enquanto cultura indígena/indigenista, mas como sempre a polêmica das bolsas acadêmicas permanecem devido as oportunidades concedidas aos Programas do Governo atual( Lula e Dilma ). 

Embora muitas distorções e as formas de compreender dos que participam ou veem os processos culturais indígenas e/ou indigenistas(bem diferentes) tem sempre alguém, fora do contexto cultural, que consegue não relacionar a questão indígena ao seu real contexto. 

A curiosidade é a de sempre: " como são os rituais sagrados? Esse ano você vai para o Ouricuri? Você é índia? "Morou quanto tempo na tribo?" "Você continua índia?"[....] Bem, por mais que eu afirme não possuir vínculo com terras e que não pratico rituais sagrados, mesmo possuindo um imenso respeito, e, por mais que eu reafirme que no meu dia a dia não existe nada que me leve a refletir a cultura indígena, tem sempre uma gracinha, do tipo: "você se fantasiaria?" Pintaria o corpo e pousaria numa entrevista?" "Dançaria a dança da chuva"?  "Baixa a Jurema?" "Se você olhar nos olhos de alguém consegue ver algo"? Você tem algum guia?"

Deixo sempre claro que ser indigenista é defender a importância da luta de minhas origens. Sou descendente indígena e tenho orgulho dos meus antepassados, mas não posso usar de barganha ou conveniência uma história passada que teve alteração por diversas situações familiares, sociais e contextos diversos. Costumo falar que não sou a índia que pintam.

Nunca negarei que a cultura me encanta, que sou fascinada pela forma de conhecer a  natureza dos espíritos através dos pajés. Está em mim a essência e a condição de crer na existência dos espíritos do bem que nos encaminham e protegem na vida. E essa condição de crer  também é escolha. Nunca conheci alguém mais espiritualizado do que um Pajé. A sabedoria é milenar e vai passando de geração a geração. Essa escolha tem muito do que aprendi na infância com a minha vozinha: cacique revolucionária dona Mazé, que conseguiu mostrar em meio a tanta dor e situações delicadas sua força enquanto guerreira. 

A entrevista saiu no mês de novembro(não na íntegra tudo que conversamos/curiosidades sobre a cultura, etc;). O foco da entrevista pela repórter Marília foi o Ensino superior, portanto," As dores e as delícias do Ensino Superior"; a quem sou grata por todo  carinho  e respeito durante a entrevista.








Não sei o porquê, mas eu sempre me encontro entre as dores e as delícias da vida....Vai saber!!!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Crônica: "O amor de Tumitinha era pouco e se acabou"

Lendo  as Crônicas de Mario Prata(1997), visando planejar as aulas atividades da semana, me deparei com este trecho de uma crônica, que é impossível não lembrar de mim. O autor não me conhece, mas escreveu muito de minha história. Com exceção da reação do sujeito no último parágrafo,em que é relatado o quanto sofreu, ao contrário dela eu rir que chorei  de minha inocente compreensão e, até  contava as amigas mais próximas.  Tanto é que eu jurava que tinha sido uma quebra de sigilo de Irani Elias, com apoio total de Adelson; que sempre riram dos meus micos.

A crônica é contada da seguinte forma: 

" Você também deve ter alguma palavra que aprendeu na infância, achava que tinha um certo significado e aquilo ficou impregnado na sua cabeça para sempre. Só anos depois veio a descobrir que a palavra não era bem aquela e nem significava aquilo. Um exemplo clássico é a frase [...] HOJE É DOMINGO, PÉ DE CACHIMBO. Na verdade não é PÉ DE CACHIMBO, mas sim PEDE(do verbo pedir) CACHIMBO. Ou seja, PEDE paz, tranquilidade, moleza [...]. E a gente sempre a imaginar um pé de cachimbo no quintal, todo florido, com cachimbos pendurados, soltando fumaça. E, assim, existem várias palavras. Por exemplo:[...]
 TUMITINHA- todo mundo conhece a música "Ciranda, Cirandinha". Uma amiga minha me confessou que, durante anos e anos, entendia um verso completamente diferente. Quando a letra fala "O AMOR QUE TU ME TINHAS ERA POUCO E SE ACABOU", ela achava que era "O AMOR DE TUMITINHA ERA POUCO E SE ACABOU".Tumitinha era um menino, coitado. Ficava com dó do Tumitinha toda vez que cantava a música, porque o amor dele tinha se acabado. E mais, achava que o Tumitinha era japonesinho. Devia se chamar, na verdade, Tumita. Quando ela descobriu que Tumitinha não existia, sofreu muito. "

Não tem como não lembrar, Ayanna teve meu mesmo registro da infância; chegou a desenhar o TUMITINHA com o AMOR que perdeu [kkkkkkkkkkkkkk]